VIÉS ABSOLUTO | Carlos Alexandre Rodrigues Viés absoluto

DREAMATORIUM
Junho / Julho 2020

CARLOS ALEXANDRE RODRIGUES  |  Viés Absoluto

Perante esta inesperada pandemia fiquei paralisado num primeiro momento, não que o confinamento me tivesse privado fisicamente de ir ao atelier, mas porque a estranheza do momento e principalmente o desconforto do desconhecido colocaram-me num estado de paralisia. Não pintei, não desenhei e não fotografei, a tragédia que estava a acontecer era tão maior que tudo que não conseguia trabalhar.
Com o passar do tempo, também o sentimento de impotência face ao meu pensamento e processo criativo foi sendo relativizado na medida em que as novas rotinas obrigaram a uma aceitação e conformismo perante esta recente realidade.
O meu processo de trabalho não mudou, o isolamento também não me custou, estou habituado a trabalhar sozinho. Ainda não senti a necessidade de repensar a minha forma de fazer ou o meu posicionamento na minha prática artística, contudo, acho que também não a saberia fazer de outro modo. Talvez o tenha de fazer e reaprender a fazer.
Sobre o conjunto de peças que apresentei, o processo de criação assenta num corpo de trabalho fotográfico reunido entre 2016 e 2020. São mostrados dois grupos de imagens, as primeiras são de barragens e centrais hidroelétricas, focando as suas características arquitetónicas representativas daquelas que hoje identificamos com a estética e ideologia do modernismo. O segundo grupo, as imagens assumem um carácter mais abstrato. São de locais de obra de infraestruturas de apoio a barragens e do material utilizado na construção das mesmas. Em ambos os casos, através da manipulação fotográfica retirei todos os elementos humanos e naturais, deste modo somos confrontados com cenários estéreis vazios de pessoas.
Não pretendo que este trabalho assuma um cariz documental, ainda que algumas das imagens do primeiro grupo tenha elementos mais realistas e por isso facilmente identificáveis, optei também por não mostrar nenhuma barragem, mas sim equipamentos adjacentes ao seu funcionamento, pela sua estranheza sugerem muito mais que uma imagem imponente e heroica a uma barragem. Tentei criar uma confluência de narrativas, para que possamos construir outra dimensão dos espaços, para quem vê, possa apreender de maneira diferente daquilo que eu observei.